sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Tábata

Talvez uma das partes mais interessantes de ser professor seja assistir a palestras pelo Brasil a fora. Perdi a conta de em quantos lugares me enfiei para para ouvir as mais distintas pessoas falar sobre todo os tipos de assunto.
Claro que, sendo psicólogo, sempre dei preferência a palestrantes que tratassem da minha área de trabalho. Graças a esse meu interesse descobri,navegando na net, referência acerca de um Seminário de Psicologia Forense, Medicina Legal e Ato Médico promovido pelo Grupo Associado de Psicólogo e Escola Superior de Advocacia em São Paulo. O assunto me pareceu interessante, assim como os custos pra me deslocar até lá, e resolvi comparecer.
O seminário seria na Universidade Mackenzie num anfiteatro que recebera o pomposo nome de George Alexander em homenagem ao Conselheiro do Mackenzie College, um importante educador da Instituição. Na verdade o tal anfiteatro era um local bastante restrito, com poucas cadeiras e cheirando a velho.
A palestra estava marcada para as 14:00,mas atrasou cerca de 50 minutos e não nos foi dada qualquer explicação convincente do porquê. Achei o cúmulo que uma faculdade que se dizia tão de vanguarda acolhesse seus visitantes com tão pouco caso. Toda aquela falta de deferência me deixou de mal humor e não foi num dos meus melhores ânimos que entrei no local pra assistir a palestrante.
Sentei-me numa das fileiras da frente e procurei, dentro do possível, ajeitar minhas coisas numa daquelas cadeiras com braços feitas para escrever como se fosse possível conjugar mesa e cadeira numa única peça. Odiava esse tipo de móvel porque ou se senta direito sem os livros, ou se abre os livros e não se senta direito. Acabei me arrumando de qualquer jeito. A palestrante chegou. Seu nome era Tábata. Entrou carregando uma série de folhas e livros. Vestida com simplicidade, com um terninho que já vira dias melhores sem dúvida, sorriu e disse: ]
- Peço desculpas pelo atraso. O trânsito não colaborou hoje. ]
Minha vontade era levantar a mão e dizer " - E como você acha que eu cheguei aqui? De helicóptero?" Mas me limitei a fazer um sorriso irônico enquanto ligava meu gravador de bolso.
- Senhor? - chamou olhando pra mim
- Eu? - respondi
- Sim, o senhor. Como é o seu nome?
- Paulo.
- Olha gostaria de solicitar que o senhor não utilizasse gravadores nessa palestra.
- Por quê?
-São normas da universidade. Aqui prezamos muito os direitos autorais.- respondeu sorrindo
Que cadela arrogante pensei. E ela acha que eu vou fazer o quê com sua palestra? Vender pra agentes da ABIN? Naquela altura do campeonato eu já estava muito propício a levantar e sair do local,mas permaneci sentado e lentamente guardei o gravador de volta no bolso.
Satisfeita, ela pediu que ligassem o retro projetor e começou a falar. Discorreu sobre a falta de apoio do governo aos papilocopistas, ao IML e aos demais profissionais que lidam com medicina legal. Falou sobre a análise da cena do crime, procedimento de apreensão de suspeitos e provas.Indicou bibliografia e, a seguir, chamou para os debates um segundo palestrante bem mais velho que ela e que deveria falar sobre ato médico. Comecei a me interessar mais. Logo vi que o palestrante não era exatamente um especialista na área pois saiu desfiando, na minha ótica, uma série de absurdos. Defendeu com enorme veemência o ato médico dizendo que era um absurdo que se deixasse nas mãos de profissionais sem supervisão a vida e a mente de pessoas. Vituperou contra os psicólogos em geral que em sua opinião não teriam jamais competência suficiente para auxiliar na cura de pacientes a não ser com ingerência de psiquiatras, estes sim, com uma formação universitária melhor. Senti meu sangue subir. Como se não bastasse todo o desconforto, o local mal ajambrado e ter levado pito de uma advogadazinha pé de chinelo, ainda tinha que aturar o Matusalém falando sobre um assunto que estava na cara que ele não entendia nada. O que mais me doeu foi ver que a tal Dra. Tábata não se opôs a nenhuma afirmação dele. Levantei a mão:
 - O senhor me permitiria uma pergunta?
- Pois não?
- O senhor está brincando?
A classe ficou num silêncio estarrecido.
- Desculpe, meu jovem, não entendi.
- Toda essa bobagem que o senhor acaba de dizer tem algum sentido? Porque se tem eu ainda não percebi. O silencio, de constrangido, tornou-se hostil.Senti que havia mexido num vespeiro mas não pude me conter e continuei:
- O senhor realmente acha que quem ingressou numa faculdade de psicologia, passou 5 anos na faculdade, fez estágio, leu quilos de livros não tem compeTência para atender? O que acha que se faz numa faculdade de psicologia? Conversinha aplicada?
A Dra. Pontual levantou-se:
- O senhor é psicólogo?
- Sim!
- Logo vi! Uma indignação dessas não iria nascer de um advogado.
- Talvez se vocês se indignassem mais as coisas poderiam ser mudadas, não acha?
- Que coisas?
- Tudo! Vocês não se dizem operadores da lei? Eu não vejo lei alguma ser operada!
- O senhor está certo num ponto, somos operadores da lei, mas não a fazemos. Só podemos operar leis dentro de nossos limites e nossos limites infelizmente não abrangem a modificação dessas leis.
 - Forma fácil de se eximir de qualquer responsabilidade não acha?
- Eu não estou me eximindo de nada. Estou explicando os limites da nossa profissão.
 - Limitados eu já vi bem que vocês são mesmo!
- Sim, limitados às escolhas que o povo faz nas urnas. Povo que, por sinal, o senhor também faz parte. Nesse momento da palestra alguns alunos e o palestrante mais velho começaram a se levantar e a sair da sala. Não estavam interessados em debater nada com um "mero psicologozinho meio revoltado" . Um dos desertores ainda gritou:
- Que foi? Com medo de perder reserva de mercado? Calma que sempre vai haver possibilidade de algum psiquiatra precisar de assistente. Desempregado você não fica.
- Nem você, afinal tirar bandido da cadeia é a especialidade de vocês, não é?
- Cala a boca, palhaço.
 - Senhores, calma. Em primeiro lugar deixe que o senhor Paulo fale. Ele tem direito a opinião dele tanto quanto todos aqui dentro e...
Nesse momento a maioria dos alunos tinha ido embora e me senti um tanto ridículo gritando com a advogada que ficara tentando apaziguar a situação. Levantei-se, juntei minhas coisas de qualquer jeito e me preparei pra sair quando escuto uma voz atrás de mim:
 - Senhor Paulo?
- Que é?
- Será que o senhor me acompanharia num café? Gostaria de saber mais sobre o que o senhor pensa acerca do Ato Médico.
- E a senhora se importa com o que eu penso?
- Não precisa me chamar de senhora.
- Eu prefiro manter uma certa cerimônia com quem não conheço.
- Bom, se o senhor quer ser mesmo formal, então me chame de Dra.
- Por que? Vc tem doutorado? Nunca entendi esse complexo de médico que vocês advogados tem. Acho tão...
- Ok! Trégua - disse fazendo o sinal de tempo com as mãos - vamos fazer assim: você me chama de Tábata, desde que eu possa te chamar de Paulo e pagar um café pra você. Aceita?
 Parei pra pensar um pouco. No final das contas ela não tinha dito nada a favor do ato e parecia genuinamente interessada em saber minhas opiniões. Além disso abriu um sorriso muito cativante que meio que me desarmou.
- Tá bom, respondi, vamos a esse café.
Saímos da faculdade e seguimos pra um barzinho bem simples ao lado do campus. Chamava-se Mackfil e era o tipico boteco com mesinhas de metal na calçada, cheio de universitários tomando o último chopp do dia. Nos acomodamos numa das mesinhas do fundo.
- Cafu, vem cá - ela chamou
- Oi Dra! O que vai ser hoje?
 - Dois cafés por enquanto. Capricha, hem?
 - Pode deixar. Ela se voltou pra mim.
- Está mais calmo?
 - Desculpa acho que exagerei um pouco.
 - Que nada! o professor Azevedo já tem muitos puxa sacos... de vez em quando é bom encontrar alguém que não seja tão condescendente com ele.
-É que eu acho idiota que qualquer profissão tenha que passar pela chancela de outra pra poder ter validade.
- Mas você está certo. Eu também penso assim, afinal não vejo como um clínico geral por exemplo vai ter mais conhcimentos acerca da psiquê humana do que um psicólogo. Não faz sentido. É sua primeira vez aqui em Sampa?
- Sim, vim especialmente para a palestra.
 - Conhecimento meio agitado esse, né?
 - Pra dizer o mínimo... disse sorrindo
O café chegou e o papo prosseguiu. Ela era interessante, sabia falar de vários assuntos, e tinha um senso de humor que me agradava bastante. Quando olho no relógio várias horas haviam se passado.
- Nossa, olha a hora! Preciso ir!
- Vai voltar hoje pra Florianópolis?
- Não, só volto depois de amanhã, domingo.
- Vai passear, então?
- É...
- Espero que goste daqui e que ninguém do PCC te pegue - disse rindo
- Tomarei cuidado.
Levantamos e ela me estendeu a mão:
 - Foi um prazer te conhecer, Paulo.
- O prazer foi meu. Obrigado pelo café.
Ela se virou e foi se afastando.
Chamei-a de volta:
- Tábata?
- Hum?
- Você vai fazer alguma coisa amanhã?
 - Tenho aulas de manhã,mas a tarde estou livre. Por quê?
 - Será que você poderia me mostrar a cidade?
Não conheço ninguém aqui.
Ela abriu um sorriso
- Claro. Onde você está hospedado?
- No Meliá Nove de Julho.
- Ok. Pego você lá amanhã. Tchau.
- Tchau.
No dia seguinte, depois do almoço, desci pra encontrar a Tábata na recepção. Ela estava vestida menos formalmente que no dia anterior com uma saia até os joelhos e uma blusa de alcinha. O coque rígido dos cabelos havia sido substituído por uma faixa que segurava os cabelos e os pés estavam envoltos em sandálias. Parecia muito menina vestida daquele jeito num contraste enorme com a advogada séria que eu vira. Sorrindo, me cumprimentou com um beijo no rosto:
- Oi!
 - Oi! Você está muito bonita.
- Obrigada... e então, pronto pra conhecer Sampa?
Assenti.
- O meu carro é aquele Santana ali. Vamos embora.
Entramos e seguimos pela Nove de julho, Rua Estados Unidos, Avenida brasil e chegamos ao Parque do Ibirapuera. Ela me levou a um museu japonês dentro do parque onde vimos objetos de uso cotidiano das famílias orientais como vasos antigos, fontes de água, pratos de porcelana, bonsais. Até mesmo uma armadura de samurai estava exposta lá e me deixou muito feliz que ela se lembrasse do papo do dia anterior, em que falei da minha fascinação pela cultura japonesa, e ela me fizesse essa surpresa. De lá caminhamos pelo parque observando a paisagem e aproveitando o mormaço já que o sol havia se escondido e o que sobrava era uma sensação de abafado não muito agradável.
- Ufa, que calor, hem? - ela disse
- Eu estou um tanto acostumados com calores - respondi
- Por que? Está na menopausa?
 - Muito engraçadinha você.... lá em Florianópolis esse calor é comum.
 - Eu devia já estar acostumada com esses abafamentos, mas...
Dizendo isso, Tábata levantou os cabelos no alto da cabeça para prendê-los e me presenteou com uma visão de seu pescoço. Por ele corria uma gota de suor que serpenteou colo abaixo descendo pelo vale entre os seios e indo desaparecer dentro da blusa. Observei meio fascinado o caminho que a gota fazia e tive vontade de seguir a gota com a língua.
- Paulo?
 - Huh?
- Está tudo bem? Estou te chamando já faz um tempo...
- Desculpa, estava distraído.
- Escuta, vamos tomar um sorvete?
- Tomo, desde que eu pague
- Já que você insiste...
Vimos um carrinho desses da Kibon de sorvete de massa do outro do parque e atravessamos uma ponte pra chegar até lá. Nesse momento o mormaço deu lugar a um ventinho meio frio e mal intencionado que prenunciava chuva iminente.
 - Tábata, talvez seja melhor a gente procurar um lugar coberto. Tá com cara que vai cair um chuvão.
- Tem razão,mas eu não vou correr com o sorvete na mão de jeito nenhum...
- Acho que não vai precisar. A chuva ainda deve demorar um pouquinho.
Péssima hora para descobrir que, como metereologista, eu sou um bom psicólogo. Foi acabar de falar e veio a tempestade. Enormes gotas dágua caíram e nós dois sem poder correr por causa do sorvete recém comprado, andamos lentamente até um local coberto. Obviamente, ao chegar lá, estávamos ensopados e o sorvete tinha virado um angu.
- Xi... ficamos sem sorvete. Talvez devêssemos ter corrido. Desculpa, Paulo.
 - Imagina, Tábata, não tem problema...
E não tinha mesmo. Com a chuva a camiseta clara que ela usava grudou-se toda no corpo revelando um par de seios com bicos escuros e grandes meio duros pelo frio. Tentei não encarar,mas não consegui: era tentação demais.
 - Paulo?
 - Huh?
- Vê alguma coisa de que gosta? perguntou num tom meio zangado
 - Eu, é...
- Você é cara de pau pra caramba, né?
- Desculpa Tábata, eu não pretendia...
- Nunca ninguém pretende. Por isso que o inferno está cheio de bem intencionados.
- Agora você está exagerando...
- Exagerando? Pô te trago na maior das boas vontades e na primeira oportunidade você fica olhando meus peitos?
- E o que vc queira que eu fizesse? Eles estão a mostra!
 - Como assim "à mostra"?
- Sua camiseta está completamente ensopada. Lógico que eu ia olhar, eu não sou de ferro!
- Imbecil!
- Péra aí, também não xinga!
 - Pô, Paulo, isso não se faz!
 - O quê?
 - Ficar olhando, ué!
- Ah, Tábata, pára de agir feito uma virgem recatada vai?
- Como é que é?
- Você me ouviu.
 - Não é questão de agir como uma virgem recatada. É questão de esperar um pouco de respeito.
 - Você quer respeito? Então dê-se ao respeito...
- E eu não me dou ao respeito, seu imbecil?
- Se você estava tão preocupada porque não se cobriu?
- Em primeiro lugar porque não deu tempo. E em segundo lugar porque achei que não precisasse me preocupar com um imbecil olhando meus peitos.
- Não me xinga!
- Mas é um imbecil mesmo.
 - Posso até ser,mas não sou falso moralista feito algumas pessoas que eu conheço...
O tapa em cheio no meio do rosto me pegou de surpresa.
 - Eu NÃO sou falsa moralista - sibilou ela furiosa
- Tá, retiro o que disse. Você está precisando é de uma boa transa, isso sim.
Dessa vez eu consegui segurar o pulso dela antes que atingisse meu rosto e a puxei pra perto de mim.
- Me solta, seu im...
Calei a boca dela com um beijo. Ela resistia, tentando me empurrar.
- Me larga!
- Pára, sua gata brava!
 - Não páro e não vou ficar quieta, seu...
A calei novamente com um outro beijo. Ela ainda resistia, mas aos poucos foi correspondendo espalmando as mãos no meu peito relaxando o corpo junto do meu.
- Paulo... eu...
Mais uma vez tomei conta da boca da Tábata que me envolveu meu pescoço com as mãos enquanto me puxava mais pra perto. Ela gemia baixinho se esfregando em mim, se esticando toda para abrir espaço pra minha boca encher de beijos seu pescoço. Que mulher cheirosa. Não sei se foi a chuva que acentuou, mas dela vinha um cheiro meio almiscarado, doce. Parecia um bichinho no cio implorando pra ser coberto.
 Sem deixar de beijá-la fui nos deslocando até um local um pouco mais reservado perto de um grande carvalho. A encostei na árvore enquanto puxava as alças da camiseta pra baixo desnudando os seios dela. Tomei ambos nas mãos e os acariciei devagar. A chuva continuava a cair e, quando abaixei a cabeça pra tocar os seios dela com a língua, minha boca ficou umida com os pingos de chuva que escorriam. Senti que ela começava a sair da passividade e a querer brincar também. Começou a tatear meu corpo em busca do botão da calça que eu usava e com certa dificuldade o abriu. Com uma lentidão torturante desceu o ziper e me tomou nas mãos. O contraste do frio da chuva com aquela mãozinha quente me deixou mais excitado ainda, meu sexo pulsando fora de controle. Não pude conter um gemido de antecipação enquanto ela explorava meu pênis com a ponta dos dedos e tentava encontrar uma posição mais confortável para me segurar. Depois de algumas tentativas frustradas, acabei ajudando, e ela começou a movimentar a mão para cima e para baixo primeiro com vagar e aos poucos aumentando o ritmo. Que delícia. Deixei que ela fizesse o que quisesse por alum tempo até que percebei que não aguentaria mais e segurei sua mão.
- O que foi, não está gostoso?
- Até demais... suspirei
Ela sorriu e tornou a me beijar. Peguei seus pulsos e os mantive acima da cabeça dela grudando todo meu corpo junto do dela, colando-a toda na árvore. Aos poucos desci minhas mãos pelos braços, pelo contorno dos seios, pela lateral da barriga até chegar à saia. Levantei a saia até a altura da cintura dela.
 - Paulo, não, espera...
 - O que foi?
- E se alguém ver?
 - Ninguém vai ver. Confie em mim.
 Deslizei a mão por entre suas coxas e puxei a calcinha dela já bem molhada pra o lado desnudando seu sexo. Com cuidado a penetrei. Ela me abraçou me enlaçando a cintura com os joelhos enquanto me movimentava pra dentro e pra fora dela ritmadamente. Aos poucos senti que nós dois arfavámos ao mesmo tempo e ela baixinho chamava meu nome:
- Ai, Paulinho...
Naquele momento acho que nem se quisesse eu poderia parar. Senti os primeiros sinais do meu gozo chegando e me abandonei as sensações que tomavam conta do meu corpo. Quando voltei a mim a puxei para perto envolvendo-a num abraço. Ao tocar suas costas vi que estavam raladas pela casca da árvore e fiquei preocupado.
- ô linda, você se machucou?
- Não foi nada...
- Foi sim, está sangrando um pouquinho...
- Não se preocupe, está tudo bem.
Ficamos em silêncio por alguns minutos.
 - Talvez fosse bom eu levar você até o hotel pra você ver essas costas e pegar uma camiseta emprestada. Vai ficar difícil de explicar pra sua mãe quando você chegar em casa...
- Ok, então. So não sei se vou ser capaz de dirigir com a perna bamba desse jeito.
Voltamos calados até o carro dela. Ao que pareceu ela se recuperou com a caminhada pois sentou-se ao volante e nos levou até o hotel sem grandes problemas. Chegando lá, dado o estado das roupas dela e de suas costas,sugeri que ela tomasse um banho enquanto eu descia pra pegar alguma coisa pra comermos. Quando voltei ao quarto a escutei no chuveiro cantando uma antiga música do Chico Buarque:
- E pela porta de trás/ Da casa vazia/ Eu ingressaria/ E te veria/ Confusa por me ver/ Chegando assim/ Mil dias antes de te conhecer ...
- Tábata, quer uma coca?
- Assim que eu sair daqui, obrigada - respondeu
- Precisa de toalha?
- Não, aqui tem...
- Bom, então acabo de ficar sem desculpas pra entrar aí
- E desde quando você precisa de desculpas pra entrar?
Sorri. Me despi e fui encontrá-la debaixo do chuveiro:
- Oi!
- Oi! Vem cá que eu quero te dar um banho...
- Oba vou ser mimado então? perguntei
- Bastante.
Ela me puxou pra perto enquanto com muito carinho ensaboava minhas costas com uma esponja que encontrara lá. Difícil descrever a sensação de estar sendo cuidado desse jeito. Não era apenas uma coisa de pele, de carne na carne, de desejo mútuo. Era um tipo diferente de toque, delicado, meigo. Não sei quanto tempo me deixei ficar nos braços dela, sob o contínuo carinho até que saímos do banho para a cama.
Final de tarde, a temperatura baixara um pouco e a arrumadeira havia posto dois cobertores na imensa cama de casal do quarto. Tomei-a pela mão e nos encorujamos debaixo daquela tepidez. Agora eu teria tempo pra fazer amor com ela devagar, pra curtir cada centímetro do corpo dela.
Passamos aquela tarde inteirinha fazendo amor. Lembro de tê-la feito gritar algumas vezes e de ter adorado escutá-la fora de controle embora não fosse muito fã de escândalos na cama. Lembro dela me cavalgando, o cabelo solto, de vê-la de olhos fechados sempre repetindo meu nome numa espécie de mantra "ai Paulinho, ai Paulinho..." Lembro de termos parado para comer e de como devoramos o chá da tarde do hotel embrulhados no cobertor. Acho que foi um dos melhores pães doces que comi até hoje...
Por fim, ela adormeceu em meus braços em paz. Parecia estar tão relaxada e tranquila que me senti triste de ter que acordá-la pra que ela pudesse ir pra casa:
- Tábata?
- huh?
- já são 22:00
- Nossa, tudo isso? Preciso ir! Obrigada por ter me acordado.
 - De nada! Vc quer que eu te leve depois eu pego um taxi de volta.
- Não, Paulinho, não gaste seu dinheiro. Eu estou de carro, lembra?
Assenti.
Ela se vestiu:
 - Que horas vocês vai embora amanhã?
- dez da manhã
 - Ah...
- Queria muito ter ver antes de ir. Será que dá?
- Acho que sim. Amanhã cedo eu passo aqui. Só não posso te levar ao aeroporto.
- Tudo bem, nem precisa, eu já marquei com um taxista.
 - Então tá. Amanhã a gente se vê, então.
Ela se levantou e nós nos beijamos. Apertei-a junto a mim com tanta força que ela gemeu:
 - Nossa Paulinho, calma...
 - Vou sentir sua falta...
- Eu também! Até amanhã.
- Até!
Ela foi embora e eu caí na cama numa divina exaustão.
Oito da manhã do dia seguinte o telefone toca:
- Senhor Paulo o taxista está a sua espera.
- Obrigado!
Me senti um pouco desapontado. Achei que a Tábata fosse aparecer,mas pela voz do recepcionista, apenas o taxista me esperava.
Juntei minhas coisas, dei uma última olhada no quarto e desci. Na recepção pedi pra que fechassem minha conta e, ao fazer menção de sair do hotel, o recepcionista diz:
 - A mocinha de ontem deixou uma encomenda pra o senhor hoje bem cedo.
- Por que você não me interfonou? - perguntei um tanto irritado
 - Desculpe, senhor, mas ela pediu que não o incomodássemos. Aqui está.
Ele me passou às mãos uma grande caixa de papelão. Dentro havia um bonsai comprado no museu que havíamos visitado no dia anterior, e um cartão:
" Daqui para a frente, só boas viagens. Um beijo. Tábata".

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