
O amor me pegou
E eu não descanso enquanto não pegar
Aquela criatura
Dizem as más línguas que o tocador de violão é quem atrai as mulheres. É considerado o “comedor” da turma, uma espécie de flautista de Hamlin às avessas por assim dizer.
Já tendo passado pela minha cota de tocadores de violão resolvi experimentar um pianista. E sim, se tem alguém nesse mundo que sabe tocar esse alguém é ele...
Dono dos olhos cor de mel mais lindos e tristes que eu já vi, de uma voz muito profunda e meiga, difícil uma mulher em sã consciência resistir e eu nem pensei nisso.
Saio na noite à procura
O batidão do meu coração na pista escura
Logo vi que não era presa fácil. Cheio de meandros, de contradições, de lapsos, de coisas a dizer. Ele contesta tudo e todos, louco por uma polêmica, por uma discussão racional acerca dos mais diversos assuntos, ele me aguçou o apetite. Fazia tempo que eu não seduzia um moço tão cheio de complicadores interessantes.
Se pego, ui...
Me entrego e fui
Em nosso primeiro encontro eu roubei um beijo dele. Muito de leve nos lábios, mas já ouvi:
- Você é louca, né, Ju?
- Você não imagina o tanto – respondi
Ele se limitou a olhar pra mim como quem olha pra um caso perdido na história da medicina.
Eu, irriquieta como costumo ser em primeiros encontros, vi que a abordagem não tinha sido das melhores, mas o que fazer? Não posso negar minha natureza e eu não iria modificar o que sou porque ele me achara maluca. Problema dele, não meu.
Será que ele quererá?
Será que ele quer?
Será que meu sonho influi?
Acabou que decidi que merecia mais uma chance pra provar minha insanidade, mas com mais calma.
Dia seguinte fui convidada a ouvir música e ver um DVD na casa dele. É: sei o que você está pensando e foi exatamente o que EU pensei também. Nunca me arriscara tanto na vida. Correndo um perigo desses... o pior é que a coisa toda me excitava, não me dava medo algum. Ele poderia ser um maníaco, um estuprador, um ladrão... Tantas as possibilidades, mas eu confesso: joguei a cautela pela janela e corri pra encontrá-lo.
Será que meu plano é bom?
Será que é no tom?
Será que ele se conclui?
Fui recebida com grande cordialidade, com um beijinho no rosto muito tímido e contido.
Lugar gostoso onde ele morava, me lembrou muito a casa de uma antiga conhecida, um lugar onde havia sempre tesouros me esperando, os quais nunca saíam de lá por mais que eu pedisse:
- Não, Ju - era a resposta invariável- os tesouros ficam aqui pra quando você voltar.
Nem preciso dizer que eu voltava sempre. A vontade de ter as preciosidades na minha mão era irresistível.
Foi assim com o Músico.
Naquela noite conversamos e conversamos. Foi um desnudamento da alma dele pra mim, um vislumbre de um pedacinho de seu mundo. O ouvi tocar, o ouvi falar, o ouvi rir, o ouvi reclamar, ouvi até mesmo seus muitos momentos de silêncio.
De súbito veio a idéia pra que víssemos o DVD que eu havia trazido a pedido dele.
E as gatas extraordinárias que
Andam nos meios onde ele flui
Será que ele evolui?
Pra minha surpresa não havia um aparelho de DVD na sala, só no quarto dele e de frente para uma cama muito arrumada:
- Você se importa de se deitar na cama? – perguntou
- Não...
Retirei os sapatos e me acomodei no colchão deitada de lado fitando a TV. Ele deitado de lado também.
O filme foi passando e minha ansiedade tomando conta. Respirei várias vezes pra controlar a vontade de me aninhar nos braços dele e, surpreendentemente, eu consegui permanecer exatamente onde estava. Decidi que daquela vez se ele quisesse algo que se manifestasse. Eu não tomaria qualquer iniciativa.
Havia passado quase metade do filme, quando ele se vira pra mim, me fita e me rouba com grande delicadeza um beijinho dos lábios.
Será que ele evolui?
E se ele evoluir, será que isso me inclui?
Literalmente ele juntou a fome que eu sentia com a vontade de comer. Não me fiz de rogada mesmo. Beijei com toda a vontade reprimida durante a tarde de conversa, com um mal disfarçado tesão.
Ele todo o tempo com uma doçura que ali parecia não caber, mas que foi bem vinda:
- Tudo bem? Não estou invadindo seus limites?
- Se você invadir meus limites eu aviso você, tá? – respondi
Pausa
- E vc? Está bem? – perguntei
- Ô! – balbuciou
Passamos aquela tarde nos acarinhando. Meu corpo reagia ao toque dele com tanta intensidade que o peguei sorrindo:
- Nossa, Ju, como você sente... E têm uma pele tão macia.
Ele parecia um ursinho. Mergulhei os dedos entre os cabelos dele, o puxei pra perto de mim, me encostei toda nele. Ouvia o coração dele descompassado junto do meu, os gemidos baixinhos que ele, de vez em quando, soltava.
Tenho que pegar, tenho que pegar
Tenho que pegar essa criatura
Parecíamos dois adolescentes descobrindo nossos corpos juntos. Cada roçar de pele, cada lambida, cada peça de roupa retirada dava mais vontade de descobrir mais, de avançar, os dois sabendo muito bem onde aquilo iria acabar.
Suávamos, arfávamos, pedíamos e naquele turbilhão de sensações eu pensei que só um Músico como ele poderia arrancar de mim e do meu corpo acordes tão doces...
Tenho que pegar, tenho que pegar
Tenho que pegar
Participação especial de Cássia Eller - Gatas Extraordinárias
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