terça-feira, 4 de novembro de 2008

Casado


Ele é casado. Muito bem casado. Acho que foi isso que me fez querê-lo mais.
Naquele dia eu descobrira o significado de acordar do lado errado da cama. A lei de Murphy havia surgido com toda a força: saí atrasada para o trabalho, esqueci que era dia de rodízio, tomei uma bronca do chefe e, pra complicar meu carro quebrou.
Nessa sucessão de mini tragédias eu ainda tentei manter o bom humor, mas no momento em que desci do carro debaixo do maior aguaceiro, e meu salto quebrou eu perdi completamente a cabeça.
Sai esbravejando estacionamento a fora xingando todos os nomes que conhecia, acho que até inventei uns novos...
Ensopada até a medula tentei me refugiar em baixo de um beiral minúsculo que vira de longe e escuto:
- Camila?
- O que? Respondo bruscamente
- Oi, sou eu, o Rodrigo, lembra de mim?
Por um instante vasculhei os arquivos mentais sem lembrar direito até que:
- Rô! Oi tudo bom?
- Nossa eu achei que fosse você, mas não tinha certeza, tudo bom?
- Tudo em ordem... Quer dizer médio
Ele sorriu:
- É... Essa chuvinha atrapalha mesmo...
- E o que você tem feito de bom? Como vai a Dani?
- Nós não estamos juntos há muito tempo, mas conheci a Bia e nos casamos
Tomei um susto:
- Você casou? Nossa! Parabéns!
- Obrigado! E vc como vai? E suas tias?
- Eu continuo solteira... As tias vão bem todas morando juntas.
- Nossa, Camila, faz quanto tempo que a gente não se vê? Uns...
- Não fala que eu morro de vergonha, to ficando velha.
- Que nada...
- Verdade Rô... Mas nossa eu me lembro de você jogando bola na 5 série! Eu estava na oitava e seu irmão era meu melhor amigo lembra?
- Claro que lembro! Você era a única amiga mais velha que eu tinha que me tratava como um ser pensante ao invés do irmãozinho mais novo do melhor amigo.
Sorri. Era verdade. Rodrigo apesar da diferença de três anos, que na época de colégio fazia uma diferença enorme, não era de forma nenhuma, crianção. Gostava de ouvi-lo falar sobre suas paixões: o RPG, as artes marciais e, claro, as garotas. Durante os recreios eu o procurava na cantina onde dividíamos uma Coca e, quando havia dinheiro, um x - tudo com direito a todas as porcarias engordativas que tínhamos direito. Bons tempos.
- Você vai à reunião da turma no sábado?
- Vou sim Rô, to morrendo de saudades de todos lá.
- Então nos vemos no Colégio no fim de semana.
- Ok! Beijo pra vc e outro pra Bia
- Será dado... Tchau

No sábado cheguei relativamente cedo ao colégio. Se tem uma coisa que pode ser deprimente ou emocionante são essas reuniões estilo vinte anos depois. Você acha todo mundo mais velho, alguns com filhos outros não, mas o papo costuma descambar depois de algumas horas pra depressão braba.
Pra minha sorte não foi o que aconteceu naquela noite. Revi amigos que há muito não tinha notícias, bati papo, dancei horrores. Só não consegui achar o Rodrigo em lugar algum. Depois de 3 horas de festa achei que ele não mais viesse.
Sentei num canto pra descansar os pés dos saltos altos e:
- Já cansou? O que aconteceu com a Camila rainha do baile dos velhos tempos?
Levantei meu olhar apenas pra dar com Rodrigo me olhando com um jeito divertido e carinhoso
- Oi moço! Achei que não vinha mais.
- Imagina se eu ia perder a reunião...
- E eu não cansei não senhor, tô só arrumando o sapato pra voltar pra pista.
- Se é assim, acho bom você me dar o prazer desta dança, topa?
A música estava acabando e respondi:
- Pode ser a próxima?
- Claro!
Foi o tempo de eu parar de esfregar os pés e os primeiros acordes de Heaven do Brian Adams encheram o salão:
- Ta com sorte Camila: uma música lenta
Ri. Ele delicadamente me tomou nos braços e saímos dançando.
- Você se lembra dos nossos bailinhos de garagem?
- Lembro sim.
- Eu tentava chegar com o corpo mais perto de você e você colocava o braço no meio dizendo que não pegava bem...
- Mas naquela época não pegava bem mesmo Rô...
- Hoje eu posso?
- Pode claro.
Ele me aninhou junto ao peito dele e eu o segui. De repente senti que meu corpo reagia ao dele: meu coração começou a bater mais rápido, minha respiração acelerou. Ele tinha um corpo quente e cada vez se enroscava mais em mim, deslizando as mãos pelas minhas costas nuas. Minha respiração de ofegante tornou-se um arfar. Um arrepio correu minha coluna acima, senti meus mamilos enrijecerem.
- Camila, você está bem?
- Estou sim por quê?
- Você ta tremendo inteira, parece uma vara verde...
- É o frio Rodrigo. Esse vestido ta um pouco decotado demais pro clima – menti
- Aliás, um vestido bonito esse o seu
- Obrigada você também está muito elegante.
Ele sorriu e tornou a me aninhar em seu peito. Não agüentando a tortura de tê-lo tão perto deslizei os dedos por sua nuca com vagar. Ele me estreitou mais ainda se isso fosse possível e com torturante delicadeza se pôs a cheirar meus cabelos:
- Você tem um cheiro tão bom... E uma pele tão macia Camila - disse baixinho
Minha boca se encheu de água. Senti os lábios de Rodrigo tocarem os lóbulos da minha orelha e se dirigirem para meu pescoço.
Subitamente a música acabou. Coloquei uma distância segura entre nós dois, agradeci a dança e saí. Precisava pensar.
Corri para o lugar onde mais me sentia segura: o parquinho. Relembrei as brincadeiras que fazíamos lá, Rô e eu, das disputas pra quem se balançava mais alto, as carreiras no polícia e ladrão e de como eu sempre o deixava escapar da cadeia improvisada que fazíamos com as carteiras.
Senti uma dorzinha no peito ao lembrar disso tudo... E agora? Quem me aparece? Um homem feito, meigo, simpático e muito muito muito casado. Deus...
- Camila?
- Ah, oi Rô!
- O que está fazendo aqui? Estava te procurando feito louco lá na festa
- Ah, eu resolvi dar uma voltinha, tomar um ar
Ele me olhou desconfiado:
- Tomar um ar? Você nunca foi disso...
- É a idade, é a idade...
O riso de Rodrigo encheu o ar:
- Estava com saudades suas Camila. Senti falta de nossos papos
- Eu também, Rodrigo, eu também.
Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ele me deu um longo abraço. Senti minhas pernas bambas.
-Rodrigo, eu...
- Hum?
Que hora eu fui escolher pra levantar a cabeça e olhá-lo. Em questão de segundos nossas bocas estavam coladas, as línguas se perseguindo famintas. Perdi o chão.
Eu estava beijando Rodrigo.
As mãos dele agora faziam o caminho inverso: subiam pelas minhas costas, deslizavam pelos meus braços abaixo iam e voltavam. Suspirei sem poder me conter.
Fui retirando a camisa de dentro da calça dele para poder sentir a pele dele em minhas mãos aí foi a vez dele gemer. Ele deslizou as alças do meu vestido para baixo e passou a acariciar meus seios com a língua, enquanto me encostava numa parede próxima.
Instintivamente abri as coxas e ele com muito cuidado colocou as mãos por dentro da minha calcinha e iniciou um carinho ritmado com os dedos
- Camila, você está tão molhada... Nossa...
Com um pouco de pressa desabotoei sua calça querendo tomá-lo em minhas mãos, mas ele não deixou:
- Relaxe, Camila, deixe acontecer...
Fechei os olhos e permiti que ele me acariciasse como quisesse. Por várias vezes ele me levou quase ao gozo, mas parava segundos antes da minha explosão. Aquilo foi me deixando maluca de desejo:
- Rodrigo, por favor...
- O que você quer?
- Você sabe o que eu quero
- Então me diga, me fala
- Eu...
- O que você quer Camila?
- Você... Todo... Dentro... De mim...
Ele afastou minha calcinha pro lado e me penetrou soltando um gemido:
- Era isso que você queria?
Não tive forças pra responder. Meu corpo estava pegando fogo.
Rodrigo passou a arremeter devagar me levando a um completo desvario. Entrelacei sua cintura com minhas pernas e me deixei levar. Quando o gozo veio estávamos exauridos.
Devagar ele me colocou no chão de novo.
- Rodrigo, eu...
- Carol, tudo bem. Aconteceu não tem como voltar atrás.
Sorri tristemente
- Mas você é casado...
- Sou e por isso não contaremos nada.
É. Ele era casado. Acho que foi isso que me fez querê-lo mais.

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