sábado, 8 de novembro de 2008

Feriado


Eles já vinham se provocando fazia algum tempo. Ela dividida entre o pecado e a tentação. Ele talvez somente escravo de sua curiosidade. Acabaram decidindo tacitamente que aquilo era apenas uma fase, uma brincadeira entre amigos. Ele se tornou um confidente eventual sempre a par das indas e vindas dela com o namorado. Gentil, engraçado, um bom papo, alguém pra conversar e rir.
Naquele dia ela estava em casa, no exílio sempre bem vindo de seu quarto, cercada de livros, dvds, sentada na cama de casal que fora de sua mãe com um laptop no colo, quando ele a chamou no MSN:
- Oi!
- Oi!
- E aí o que tem de bom pra ver na Paulista?
- Não sei. Aluguei 5 filmes.
- Nossa, tudo isso?
- É – respondeu rindo – tô sem um tostão furado então vou ficar em casa assistindo.
- Quais filmes?
Ela enumerou os filmes e perguntou:
- Vc não quer vir aqui ver os filmes comigo?
- É... maybe
- Prometo que não te ataco – ela disse brincando
- Que pena – ele respondeu
Ela sorriu de si para si:
- Que amigo nipônico safado que eu tenho, hem?
- Ué, mas foi você quem falou da história de atacar...
Em seguida ele perguntou:
- Por que vc não vem aqui em casa ver os filmes?
- Não vou incomodar você?
- Claro que não!
- Quer que eu leve alguma coisa?
- Eu não tenho pipoca de microondas. Se quiser trazer...
- De microondas eu não tenho, mas tenho a normal. Você tem óleo e panela aí?
- Tenho sim
- Quer mais alguma coisa?
- Se você quiser trazer alguma coisa pode.
- Ok. Qual o seu endereço?
- Ué, você não anotou ainda? –respondeu rindo
Ela era a rainha de perder telefones e endereços de quem gostava.

Ela desligou o computador apenas para perceber que o filme que havia prometido levar não estava em sua casa:
- Ih, e agora?
Decidiu que passaria numa locadora de vídeo e alugaria o título. Levantou da cama, tomou um banho rápido e vestiu os inseparáveis jeans e camiseta pretos. Deixou soltos os cabelos negros envoltos somente numa faixa cor de rosa que lhe cruzava o alto da cabeça. Andava uma pouco descuidada consigo mesma, talvez vítima da ciranda de provas, leituras e aulas. Vida de concursanda não era fácil e ela parecia sempre estar correndo atrás de algo sem tempo para si.
Despediu-se da mãe e das tias e foi em direção ao ponto de táxi, imersa em pensamentos sobre o itinerário que faria. Decidiu que primeiro iria a locadora e depois para o apartamento dele. Foi até a loja meio receosa, pois, apesar de ser sócia de uma grande rede, nem sempre a filial tinha os filmes que ela queria.
Entrou na loja e foi saudada pela atendente:
- Bom dia!
- Bom dia - respondeu – você tem o filme tal?
- Me acompanhe, por favor.
O filme estava lá e ao ver que havia uma seqüência resolveu levá-la também. Dvds na mão, se dirigiu ao caixa onde pegou a pipoca e um pacote de Amanditas. Entregou tudo ao caixa apenas para escutar que havia pegado dois dvds do mesmo filme. Deixou a “seqüência” sobre o balcão.
Voltou ao táxi, disse onde queria ir e após uma rápida olhada no guia de ruas e uma breve corrida chegaram.

Ao chegar em frente a porta do apartamento dele percebeu que o número estava escrito com velas de aniversário. Achou engraçada a idéia:
- Oi!
- Oi, entra! – ele respondeu dando-lhe um beijo no rosto.
O apartamento era bem iluminado, grande e bem cuidado. Todo decorado em estilo japonês tinha na sala um tatame com dois futons azuis. Do lado esquerdo uma prateleira com chinelos de dedo bastante confortáveis. Do lado direito uma estante com uma série de brinquedos, dvds e bugigangas variadas. Ela se sentiu muito a vontade naquele ambiente.
- Olha, eu não tinha o DVD que você queria em casa, então aluguei - disse ela estendendo a ele uma sacola de plástico.
- Não precisava ter alugado, podia ter trazido outro.
- Nossa que apartamento legal! Quero ter um igual a esse quando crescer - brincou
- Bom, tour básico: aqui é a sala, aqui o quarto de bagunça, aliás tô pra arrumar esse quarto faz um tempo mas a gente se muda e as coisas vão ficando. Aqui é o meu quarto e aqui a cozinha.
Ela o seguiu até a cozinha. Também decorada com simplicidade, contava com a indispensável geladeira, um microondas, um fogão e uma estante com alguns alimentos na sua maioria enlatados e semi prontos. Uma típica cozinha de solteiro:
- Eu quase não uso o fogão. Só pra fazer miojo e chá. Chá na verdade eu faço no micoroondas.
- Chá verde? – ela perguntou
- Qualquer chá.
- Eu sou viciada em chá verde.
Ele colocara um pacote de pipoca no microondas que estava estourando enquanto conversavam:
- O pacote diz que deve esperar um intervalo maior que dois minutos entre os estouros...
Pipoca pronta,dirigiram-se para a sala para a sessão de cinema.
No meio da sala havia uma parafernália de fios, caixas de som e um vídeo game. No chão jazia um laptop ligado. Descalça, ela o observou pelejando com o DVD:
- Meu DVD não está ligando acho que queimou...
Ela riu : - Quer ajuda?
- Não precisa – disse ele – retirando o aparelho do meio da confusão de fios e ligando-o numa tomada diferente – ah, não queimou não. Deve ser algum mau contato.
Finalmente ele conseguiu ligar o aparelho. Ela já havia entregado o DVD a ele.
Ele sentou-se num futon enquanto ela se sentou em outro. Ela lhe disse:
- Senta aqui, ó!
Sentaram-se lado a lado. A luz que vinha da rua fazia reflexo na tela da TV o que o obrigou a fechar a cortina de treliça. Mesmo assim não adiantou muito e ela pediu:
- Posso me apoiar em você?
- Pode.
Ela se deitou no colo dele e o filme começou.
Ela não soube precisar quando os carinhos começaram. Na verdade, soube sim. Do meio do filme para frente, meio inconscientemente a princípio, ela passou a fazer um delicado carinho na perna dele. Depois, percebendo que o carinho era bem vindo passou a fazê-lo com mais interesse. Passados alguns minutos ele passou a corresponder. A carícia era inocente, gostosa.
O filme acabou e ela perguntou:
- Então, vamos ver outra coisa?
- Eu tenho esses dois que eu peguei pra ver – disse ele
Eram dois DVDS de uma troupe de circo bastante famosa. Nada mais normal para ele um entusiasta da arte circense.
Ele colocou o DVD no aparelho e ela novamente se deitou no colo dele. Os carinhos foram reiniciados, mas agora com mais intensidade. Ele afagou suas costas coluna abaixo, provocando nela arrepios. Ela sentiu que seu estômago parecia muito leve como se tivesse um vácuo dentro dele. Ele subiu por seus braços, tocou os lóbulos de sua orelha, seus cabelos, afagando as mãos dela que envolviam os próprios ombros. Depois de algum tempo ela disse:
- Assim ta difícil de se concentrar...
Apesar dos carinhos serem agora abertamente mais ousados ela não conseguia encará-lo e nem ela a ele. De olhos fechados ela passou a tentar acariciá-lo de volta. Como sentiu dificuldade, ela os abriu apenas para vê-lo praticamente deitado, olhos fechados (olhos que ela gostava de dizer que eram “rasgados na face”), cabeça jogada para trás, o corpo arqueado para cima na direção de sua mão. Tomando coragem ela deslizou a mão pela barriga e peito dele e seguiu a trilha com beijos. Ele passou a puxar a própria camiseta pra cima pra dar maior acesso a seu corpo, mas ela queria sentir os lábios dele. Roçando o rosto no dele alcançou seus lábios e trocaram seu primeiro e desajeitado beijo.
Ela voltou a afagá-lo e ele guiou a mão dela em direção ao pênis dele já bem saliente embaixo da bermuda que usava. Ela o acariciou um pouco em cima da roupa. Ele passou a lhe beijar os seios meio descobertos. Em seguida retirou a camiseta puxando-a acima da cabeça numa manobra que a excitou mais ainda. Ela sempre adorou ver um homem se despir daquele jeito. Sempre.



Ele retirou a calça jeans que ela usava juntamente com a calcinha. Agora ela estava nua da cintura para baixo. Ele, da cintura para cima. Ela retirou a própria camiseta e o abraçou. O contato entre as peles era delicioso. Ele era delicioso.
Voltaram a se deitar no futon ele a envolveu com os braços enquanto ela se apoiava no peito dele. Os carinhos diminuíram um pouco de intensidade mas continuaram acontecendo. Ela perguntou:
- Você tem camisinha?
- Hum?
- Você tem camisinha?
- Tenho.
- Então pega.
- O quê? Desculpa não ouvi.
- Então pega - ela respondeu rindo
Ele foi buscar a camisinha e voltou para os braços dela. Depois de algumas tentativas frustradas ele perguntou:
- Vamos pra minha cama?
- Tá bom.
Ele se levantou e tentou abraçá-la. Ela não entendeu o gesto e lhe deu a mão. Ficaram meio atrapalhados nessa de “dá a mão ou abraça”:
- É impressão minha ou nós dois estamos cheios de mãos? - ela perguntou rindo
- Nós dois estamos cheio de mãos, sim - ele respondeu sorrindo
Foram para o quarto dele onde transaram com vagar.

- Nossa, bom esse filme, né? Vamos ver a seqüência?
Ela gargalhou:
- Nunca mais eu vou assistir show circense com da mesma forma.
Ficaram ali deitados, abraçados, ele fazendo carinho e conversando com ela. Um clima gostoso, doce. Ela perguntou:
- Posso te fazer uma pergunta?
- Pode.
- Você me convidou pra vir aqui já pensando que fosse rolar?
- Não. Eu convidei pra ver o filme. Pensei que, no mínimo, eu iria ter uma ótima companhia pra assistir ao filme.
- Sabe que nunca eu fiz isso?
- Ó meu Deus, transei com uma virgem, tô com a consciência pesada...
- Não, tô falando assim...
Ele fez uma pequena pausa:
- Que dia!
- Isso é o Lippy ou o Hardy falando?
- Não é isso - ele disse meio brincalhão - é que eu sempre pensei nisso, mas nunca imaginei que um dia fosse rolar. Você pensou nisso?
- Pensava sim, cheia de culpa.
- Ué, por que?
- Porque eu tinha namorado, né?
- Eu não tinha, então...
- Sorte sua - ela respondeu sorrindo
- Eu nem sei como os papos no msn começaram a esquentar,mas foram esquentando...
- É...
- Teve um dia que eu estava falando com você daquela menina, você desdenhou...
- Eu desdenhei?
- É disse: “foi só isso?”
- Eu não desdenhei, eu...
- Fiquei louco naquele dia...
Ela ficou feliz de que ele se lembrasse do dia e do papo ocorrido há mais de 4 meses atrás, mas nada disse:
- Lembra que eu falei pra você que nós dois numa superfície “deitável” não ia prestar? -ela perguntou
- É, mas prestou!
- Você entendeu o que eu quis dizer...- ela respondeu rindo
Ela voltou a acariciá-lo:
- Você geme gostoso, né?
- É?
- Geme sim - ela respondeu voltando a acariciá-lo. Deslizou a mão pelo peito dele
- Tô fazendo um esforço pra não gemer aqui - ele respondeu meio arfante
De repente o celular dela avisou que havia recado. Ela se levantou:
- Preciso ver que recado é...
- Ai, então vai ver, vai ver.
Ela foi e voltou em tempo recorde:
- Onde estávamos? –ele perguntou
Ela sorriu
- Você estava gemendo - ela respondeu
- E onde VOCÊ estava? – ele perguntou
Ela voltou a acariciá-lo:
- Que doce tortura – ele disse – sua provocadora.
Daquele momento em diante a única coisa que ele conseguia repetir era “que gostoso, que gostoso” até que a explosão do orgasmo o acalmou:
- Ai, você me deixa mole. Inteirinho – completou rindo.
Ela se levantou da cama para lavar as mãos e voltou para a cama para os braços dele. Ficaram ali abraçados durante um tempo que ela não soube precisar até que ele perguntou:
- Está com fome?
- Um pouquinho...
- Então vamos pedir uma pizza? Você escolhe metade e eu escolho metade. Do que você quer?
- Margherita e você?
- Eu vou pedir uma com mais sustância – deixa eu ver: lombo com catupiry
Ela riu:
- Nossa! Você pode, peça - disse
Ele se levantou, pediu a pizza e eles foram para a sala ver TV. Ficaram ali, sentados olhando para o aparelho enquanto a comida não chegava. Finalmente chegou e ele desceu para buscá-la. Ela comeu um pouco e pediu:
- Posso pegar um pedaço da sua?
- Ela não é minha, é nossa. Pega.
A impressão que ela teve foi que ambos ficaram meio sem saber o que fazer depois que tudo aconteceu. Comeram a pizza papeando animadamente. Ele falou sobre seu trabalho, seus amigos, a faculdade, ambos riram muito juntos, mas o momento de encantamento havia passado. O coração dela ficou meio apertado porque naquela altura do campeonato já estava gostando um pouco dele e esperando que quem sabe ele também tivesse se encantado um pouco com ela. Mas não deixou transparecer seus sentimentos.
Voltaram para a sala e conversaram um pouco mais até que ela percebeu que estava na hora de ir embora:
- Bom, eu vou indo. Já tá tarde. – ela disse
- Ta bom – ele respondeu – eu te levo lá embaixo
Foram juntos até a portaria. Ele se despediu com um beijo no rosto e a frase:
- Agora você já conhece minha casa.
- Verdade. Obrigada por tudo.
- Até a próxima.
Ela entrou no táxi e foi para casa.

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